domingo, setembro 29, 2002
Imundície
Não, não vou escrever sobre a maldita propaganda eleitoral que emporcalha as cidades, mas sim sobre The Filth ("imundície" ou "sujeira" em português), o mais recente trabalho de Grant Morrison na forma de uma série de quadrinhos em 13 edições lançada pelo selo Vertigo da DC Comics. É um projeto autoral de Morrison, da mesma forma que Invisíveis (publicado no Brasil pela Brainstore), e que estava sendo aguardado por ansiedade pelos fãs - como eu - desse escocês. Até o momento, foram lançadas 3 edições.
Na primeira edição, Morrison mostra a vida medíocre de Greg Feely, um fracassado que tem um emprego horrível e cuja maior diversão é alugar filmes pornôs e alimentar seu gatinho. Mas as aparências enganam e logo descobrimos que Feely é mais do que isso: seu nome verdadeiro é Ned Slade e ele é oficial da Hand, uma agência secreta de "lixeiros" responsáveis pela "limpeza" do nosso mundo, livrando-o de ameaças; nas palavras de um deles, "we stop the world´s back yard from stinking."
Soa bizarro, não? Imagine então para o pobre Greg, que não sabe que ele é o oficial Slade, e passa a encarar todo tipo de bizarrice que a mente de Morrison pode conceber: planetas bonsai, chimpanzés russos assassinos, golfinhos com próteses etc.
A série começou legal, ainda que usando o clichê do "agente-aposentado-que-volta-à-ativa". Também estranhei os uniformes dos agentes da Hand, coloridos demais para o meu gosto; parecem ter saído de algum seriado de ficção científica dos anos 60, como Perdidos no Espaço. Da mesma forma, não fui com a cara daquele chimpanzé que, vestido com um típico chapéu russo, me fez recordar daqueles posteres de macacos vestidos como gente, coisa que eu odeio :)
Mas apesar disso, Morrison continua afiado como sempre. Estão presentes as "múltiplas idéias bizarros por quadrinho", o humor negro (bem cruel mesmo, conforme se vê em um personagem na edição 3, um ex-super-herói à Super-Homem, confinado numa cadeira de rodas...) e a ação desenfreada.
Os desenhos de Chris Weston também colaboram, com uma arte no estilo realista, necessária para contrapor as esquisitices de Morrison. Outro ponto interessante são as capas, simples mas que dizem tudo (acho que o adjetivo correto seria minimalista).
Até o momento, The Filth mostra ser uma boa série com a grife Grant Morrison. Espero que continue assim até a conclusão.
22:22
Fome de viver
Fazia um bom tempo que eu queria comprar No coração do mar - a história que inspirou o Moby Dick de Melville, livro escrito por Nathaniel Philbrick e ganhador de prêmios literários no exterior. Semana passada, acabei topando com ele na prateleira de sugestões da biblioteca municipal e o peguei na mesma hora.
Desde que li uma resenha numa Veja, fiquei curioso pela história do baleeiro Essex que, em 1820, de caçador virou caça quando uma enorme cachalote afundou o navio, deixando 20 homens à deriva no Pacífico. A partir daí, eles tentam sobreviver sem comida e água, até que são forçados a recorrer ao canibalismo. A história é muito bem tecida por Philbrick, um historiador especialista em temas marítimos que usou o relato de dois sobreviventes para contar não só esta tragédia, mas também a vida dos marujos e da cidade de Nantucket, ilha americana que se tornou um importante centro econômico graças a matança de baleias.
O momento mais forte do livro é quando os marujos, já desesperados, passam a se alimentar dos seus companheiros mortos. Sem cair no sensacionalismo barato que um tema mórbido deste pode despertar, Philbrick mostra o que acontece com o corpo humano em casos de inanição e compara esta tragédia com outras, visto que casos de canibalismo, na época, eram mais comuns do que se pensava...
Sem dúvida, um dos melhores livros de não-ficção que li este ano, ainda mais porque usei o tema na minha estréia no Hyperfan. Altamente recomendado.
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Novos gibis
Chegou mais um pacote esta semana : a segunda edição de League of Extraordinary Gentlemen, JSA # 39, Alias # 13 e The Filth # 3.
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